terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Análise: O Homem que Mudou o Jogo

Não é nada estatístico, pelo menos não até onde eu saiba, mas se me pedissem para apontar quais esportes rendem mais filmes, minha resposta seria o boxe e o beisebol. O boxe tem um quê mais universal, um esporte que todo mundo em todos os lugares do mundo conhece e tem noção de sua estrutura. Tente puxar de cabeça quantos filmes de boxe ficaram famosos: Rocky, Touro Indomável, Menina de Ouro, O Lutador, O Vencedor, O Campeão, e por aí vai. Correndo atrás vem os filmes de beisebol, muito populares, mas que parecem sofrer uma pequena barreira quando são levados para fora dos Estados Unidos, criada pela falta de familiaridade com o jogo da maior parte dos países do mundo. É verdade que Hollywood conseguiu de certa maneira transmitir as noções gerais do esporte para fora do país onde é idolatrado, mas ainda existe muita estranheza quanto ao esporte no Brasil. No caso específico de O Homem que Mudou o Jogo, filme de Bennett Miller indicado a 6 Oscars, essa falta de familiaridade pode ser um empecilho no começo do filme ou até mesmo afugentar de vez potenciais espectadores das salas de cinema, devido ao abundante uso de termos e regras do esporte. É importante saber que essa impressão rapidamente se desfaz quando fica claro que o longa é muito mais do que outro filme de beisebol hollywoodiano.

Baseada em fatos reais, a trama gira em torno de Billy Beane (Brad Pitt), general manager (explicação leiga meia-boca: uma espécie de técnico, só que responsável pelas transações comercias dos atletas da equipe) do Oakland Athletics. Em 2001, o Oakland é eliminado na fase eliminatória da liga, criando um mal-estar no clube. Em especial, Beane encontra dificuldades em montar um time competitivo com o baixo orçamento que dispõe e, pra piorar, vê a saída dos três melhores atletas da equipe no fim da temporada. Nesse momento de crise, ele conhece Peter Brand (Jonah Hill), um graduado em economia de Yale que trabalha para uma equipe rival. Brand convence Beane de que ele pode montar um time de respeito com o pouco dinheiro que possui, com base nas teorias criadas pelo controverso teórico do beisebol Bill James. Beane contrata Brand e, juntos, começam a selecionar jogadores desacreditados - e, portanto, mais baratos -, mas que Brand acredita que possam vir a formar uma boa equipe com base em cálculos matemáticos. O método gera uma reação furiosa dos membros mais conservadores dos Oakland e uma recepção fria da imprensa esportiva, mas logo se revela com mais méritos do que se pensava inicialmente.

O Homem que Mudou o Jogo possui como maior trunfo algo que os grandes filmes de esporte também utilizaram para se guiar: a percepção de que, no fundo, eles precisam ser muito mais do que um filme de esporte. No caso do filme, o algo mais fica por conta de Billy Beane, que Pitt leva às telas de forma magistral. Beane não é o personagem mais difícil da carreira do ator, mas Pitt consegue encontrar o tom e a alma de manager com uma leveza notável, criando uma grande personificação. Que ano para Pitt no cinema, aliás. O outro destaque do filme é o indicado "surpresa" ao Oscar, Jonah Hill. Seu personagem, Brand, é baseado em Paul DePodesta, assistente de Beane responsável por levar a teoria dos cálculos matemáticos no beisebol a público. Sua atuação faz de seu personagem coadjuvante alguém tão carismático quanto o protagonista, o que é um feito digno de louvor.

Também merecedor de aplausos é o roteiro a quatro mãos de Steven Zaillian e Aaron Sorkin, facilmente os dois melhores roteiristas em atividade em Hollywood. Eles conseguem dar vida à uma história de difícil assimilação até mesmo para a maior parte dos fãs do esporte. Outro ponto excelente é o desfecho, completamente inesperado e que reserva algumas reviravoltas para quem não conhece a história real por trás do filme (e se é esse o seu caso, recomendo não pesquisar nada antes de ir ao cinema). É uma pena que minha falta de contato com o esporte tenha tornado a experiência do filme menos impactante, embora não tenha a atrapalhado em nada nem tornado a obra menos interessante para mim. Talvez o filme tenha ecoado melhor nos Estados Unidos, mas ele tem o suficiente para agradar o público brasileiro como um longa de esporte acima de média.

Nota: 4,5 de 5,0.

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