terça-feira, 24 de abril de 2012

Pixar: quando filmes para crianças são mais que isso

Colocar sonhos nas telas do cinema. Pode-se dizer que esse sempre foi o lema não-oficial da Pixar e de suas animações. Com uma história de décadas, a trajetória do estúdio cruza com nomes como a Lucasarts, no seio de quem nasceu e cresceu; Steve Jobs, que comprou o grupo na década de 1990; até chegar na Disney, que se tornou a principal parceira do estúdio e a atual detentora de suas ações. Com seu estilo baseado em animação gerada por computadores, a Pixar se tornou uma das pioneiras do ramo - Toy Story é o primeiro longa totalmente no estilo, embora haja quem afirme que o brasileiro Cassiopéia foi o primeiro 100% computadorizado de fato. Discussões acaloradas à parte, a Pixar veio a se tornar o maior estúdio de animação digital do mundo, talvez superando a própria Disney em popularidade na última década. A pergunta que fica é: por quê? Como um estúdio que começou a produzir longas há 17 anos pode ter se tornado um fenômeno cultural tão grande?

Na época de seu lançamento, Toy Story era algo inacreditável, uma verdadeira sensação para a maior parte do público. Sim, a animação, produzida em parceira e distribuída pela Disney, era realmente de uma qualidade espantosa, com uma riqueza de detalhes que ainda hoje é capaz de fazer o crítico mais exigente sorrir. Sua continuação, Toy Story 2, que a Disney chegou a planejar fazer diretamente em vídeo, e Vida de Inseto, os dois projetos seguintes da Pixar, não deixaram por menos, exibindo uma produção cada vez mais apurada e bem executada. Mas outra coisa se destacava fortemente, algo que ia além do assombro visual: os roteiros. Os desenhos do grupo tinham roteiros muito bons, fugindo do esquema tradicional da princesa encantada em perigo e do tirano usurpador (que produziu grandes clássicos, claro, mas que pede por uma pausa e uma reinvenção).

A grande sacada da Pixar foi produzir longas que, de certa forma, eram atemporais. Vamos analisar um grande clássico da Disney em comparação, O Rei Leão, por exemplo (aliás, minha animação favorita - achei que vocês deveriam saber). Seu tema, argumento e desenvolvimento permitem que o longa seja apreciado por pessoas de todas as idades, sempre, mas ele deixa uma marca especial exclusivamente nas crianças. Ele é pensado para ser assim, esse é seu apelo. Agora, consideremos um filme como Up. Seu apelo inicial é o público infantil, é óbvio, mas ele tem um ponto de virada. Sua história consegue falar alto com pessoas de qualquer idade, talvez dialogando melhor até mesmo com uma plateia mais madura. Até mesmo um filme que parece ser moldado exclusivamente para crianças, como Procurando Nemo, encontra esse eco necessário em outras idades que faz com que ele seja, de fato, uma experiência que não vê barreiras etárias.

E são em filmes mais "experimentais", como WALL-E, uma das animações de estrutura mais inusitada dos últimos tempos, que a genialidade da equipe de Pixar em conduzir suas histórias fica escancarada. Uma trama de amor em essência, mas que abraça uma série de temas periféricos, como solidão e inadequação, que não são tão facilmente absorvidos por um público mais jovem, mas rapidamente assimilados com o passar do tempo. Talvez seja esse o ponto que separa de maneira direta a Pixar da Disney. Ambos apreciáveis em qualquer idade, ambos produzindo obras eternas, ambos errando às vezes, mas sempre se mantendo no topo do que fazem. Porém, talvez quando ficamos velhos nos tornamos mais Pixar do que Disney, o último tendo mais aquele gosto quase agridoce de recordações de infância. E, enquanto a Pixar se prepara para levar mais multidões ao cinema com Valente no meio desse ano, nos preparamos nós para dar voz aquela criança que temos e que gosta (melhor seria: precisa) de se expressar de vez em quando. Ela pode agradecer e muito à Pixar pela chance dada todo ano, e que sempre se renova, melhor e melhor.

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