segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Análise: Argo

"Argo fuck yourself"

Ben Affleck não é um grande ator. Na verdade, na maior parte das vezes ele é simplesmente mediano, no melhor. Porém, a cada novo trabalho me convenço que Affleck é também um profissional maravilhoso e extremamente competente quando está por trás das câmeras. Ele já havia dado uma mostra disso com seu roteiro, em parceria com Matt Damon, de Gênio Indomável (1997), que transformou os dois atores em vencedores do Oscar. Seus trabalhos posteriores como diretor foram recebidos com entusiasmo pela crítica, mas o consenso parece apontar que Argo, seu trabalho mais recente, é também sua melhor investida no cinema até aqui. O thriller político é baseado em um evento real bastante peculiar na longa de história de rivalidade entre Estados Unidos e Irã.

Em 1979, o mundo assistiu o que foi talvez o momento mais incerto na política externa americana desde a Crise dos Mísseis de Cuba. Enfurecido pelo asilo político que os Estados Unidos oferecia ao ex-Xá da Pérsia, Reza Pahlavi, e incitado por seu novo governante, o Aiatolá Khomeini, um grupo de militantes iranianos invadiu a embaixada americana e fez mais de 50 reféns, numa crise que se arrastaria por meses. Porém, sem que os iranianos desconfiassem, seis funcionários conseguiram escapar e buscaram refúgio na casa do embaixador canadense. Coube a Tony Mendez (aqui interpretado pelo diretor Affleck), especialista em resgates da CIA, fazer a "extração" dos seis diplomatas. O estratagema montado é,  não a toa, realmente digno de filme, com Mendez entrando no Irã sob disfarce de um produtor procurando uma locação exótica para um suposto longa de ficção científica, o tal Argo do título.

O roteiro assinado por Chris Terrio é muito bom, embora não fuja dos clichês do gênero ou deixe de adicionar fatos à história real, em prol da linguagem cinematográfica. Existem as forçações de barra para o lado americano que se poderia esperar do filme, culminando em uma quase total omissão do Canadá na operação, quando o país foi chave para todo o processo, e uma cena final nada sutil e que flerta com o brega descaradamente. Ainda assim, o filme é tecnicamente muito bem montado e suas cenas de tensão e suspense realmente funcionam. A direção de Affleck é notável e faz com que uma trama que poderia soar como "acho que já vi isso antes" ganhe vida própria. E, em meio a um elenco estelar, os destaques ficam por conta de Alan Arkin, interpretando um produtor de Hollywood - inventado para o filme - que oferece ajudas práticas a Mendez para driblar as burocracias da indústria do cinema e completar sua missão, e John Goodman, como o maquiador John Chambers (que trabalhou em O Planeta dos Macacos), que também oferece sua consultoria a Mendez.

Argo foi indicado a cinco Globos de Ouro (filme, diretor, roteiro, ator coadjuvante para Arkin e trilha sonora para o genial Alexandre Desplat) e é altissimamente cotado para ser o retorno de Affleck à cerimônia do Oscar. De toda maneira, é um filme que vale a pena ser assistido e que compensa suas falhas, além de sinalizar um amadurecimento de Affleck e uma nova vida no cinema para ele. Não é um trabalho de gênio, mas é entretenimento garantido e segura as próprias pretensões com bastante habilidade.

Nota: 4,5 de 5,0.

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